quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Estudo: o que é e como se faz - Carlos Ramalhete


Estudar é o que se faz para aprender, que, por sua vez, é trazer algo mental para dentro da gente, sistematicamente, encaixando o que entra numa visão de mundo coesa, passando assim a ter uma ferramenta nova para entender a realidade circundante, agir racionalmente sobre a realidade externa e interna e entender mais facilmente o que vier de novo; afinal, quanto mais se aprende, mais fácil fica aprender.

Aprender, destarte, é reconstruir coerentemente no próprio universo mental os dados novos e fazer deles inteligência. Dados são coisas soltas, decoreba acumulada na memória de curto prazo; são mera matéria-prima do estudo e aprendizagem, não seu objeto. Este é a inteligência, que é a compreensão sistemática das relações entre dados, acumulada na memória de longo prazo.

O estudo é trabalho fundamentalmente INDIVIDUAL, por ser trabalho mental, subjetivo e interno à pessoa de reconstrução interior de uma realidade exterior, operando assim uma construção (ou, antes, preenchimento) do próprio ser e tornando-se base para a projeção de si no mundo exterior, que é conhecido pelo estudo e abordado pela ação racional por este tornada possível.


As etapas do estudo são a identificação do seu objeto (a pergunta para a qual se busca uma resposta), a percepção do Status Quaestionis – o estado da pergunta –, a busca de bibliografia, a identificação dos pré-requisitos e, se necessário, seu estudo; a percepção das escolas interpretativas e seu estudo sistemático, de modo a alcançar uma síntese, que deve sofrer uma aplicação inicial à realidade, conferida nos seus erros e acertos e assim aplicada definitivamente de forma habitual e metódica.

Pelo aprendizado conquistamos o domínio teórico do objeto, que por sua vez consiste na percepção clara e distinta da inter-relação de seus aspectos internos, da relação dele com a realidade e com as teorias a jusante e a vazante dele.

O estudo pode ser auxiliado por um professor e/ou por um grupo de estudos (que não é a mesma coisa que uma sala de aula).
O professor não abre a cabeça do aluno para botar coisas lá dentro!
O estudo continua sendo um processo individual, mesmo com professor; a responsabilidade é toda do aluno, porque o professor é um auxílio valiosíssimo, não um substituto de ação própria. O professor é alguém que já estudou aquilo, logo domina sistematicamente o objeto de estudo, tem visão de conjunto, conhece o Status Quaestionis, sabe relacionar o objeto à realidade e às demais teorias, coloca-se à disposição e oferece bibliografia (que se deve ler toda antes de encontrar o professor pela primeira vez), uma apresentação sistemática e gradual, mecanismos de conferência do aprendizado (exercícios & testes) e solução de dúvidas pontuais dos alunos.

O grupo de estudos não é sucedâneo nem do professor, nem do estudo pessoal aplicado; é um auxílio valioso para conferir a relação do objeto de estudo com a realidade e com as teorias conflitantes, bem como com aquelas a jusante e a vazante, servindo de campo de testes para a lógica interna da versão mental apreendida do objeto de estudo, por ser uma reunião de pessoas que estão apreendendo os mesmos dados, logo estão construindo ao mesmo tempo a mesma imagem mental, logo sofrem percalços similares, mas não iguais. As diferenças de apreensão enriquecem o colega, ao questionar o que lhe parecia óbvio, colocar diversamente o mesmo esquema mental e aplicar o objeto à realidade em exemplos diferentes.

Na prática, o estudo deve ser feito assim: Para começar, a oração é uma excelente pedida. Em seguida, faz-se uma primeira leitura do material de estudo, dorme-se para possibilitar a passagem da memória de curto prazo para a permanente, relê-se o material, aplica-se-lhe de forma prático-teórica (fichamento, redação e aplicação a situações hipotéticas e reais. Em seguida, faz-se outra releitura, contrastando o aprendido na aplicação prático-teórica, e um resumo mental (recorrendo ao fichamento). Dorme-se ainda outra vez, e faz-se outro resumo mental (desta feita sem recurso a material escrito, a partir da memória permanente). Chegando-se neste ponto, é hora da criação de hábito mental de aplicação prática do aprendido.
Neste vídeo abordamos ainda, finalmente, alguns problemas comuns e suas soluções.

O Heresiarca Lutero

Blood Money