domingo, 8 de maio de 2016

As Três Cruzes - São Luís M. G. de Montfort


É preciso sofrer como os santos, como Jesus e Maria.

[30]Olhai, meus queridos Amigos da Cruz, olhai diante de vós uma grande nuvem de testemunhas (71), que provam sem nada dizer, o que vos digo. Vêde, de passagem, o justo Abel assassinado por seu irmão; o justo Abraão estrangeiro na terra, o justo Lot expulso de seu país; o justo Tobias atingido pela cegueira; o justo Jó empobrecido, humilhado e coberto, dos pés à cabeça, por uma chaga.

[31]Olhai tantos Apóstolos e Mártires cobertos com a púrpura de seu sangue; tantas Virgens e Confessores empobrecidos, humilhados, expulsos, desprezados, que com S. Paulo, exclamam: “Olhai nosso bom Jesus autor e consumador da fé (72) que temos nEle e na sua Cruz; foi preciso que Ele sofresse a fim de, pela Cruz, entrar em sua glória (73).

Vêde, ao lado de Jesus Cristo, um agudo gládio que penetra, até o fundo, no coração terno e inocente de Maria, que nunca tivera qualquer pecado, original ou atual. Como me pesa não poder estender-me falando sobre a Paixão de um e de outro, para mostrar que o que sofremos nada é em comparação do que sofreram!

[32]Depois disto, qual de vós poderá eximir-se de levar sua cruz? Qual de vós não voará depressa para os lugares onde sabe que a cruz o espera? Quem não exclamará, com Santo Inácio Mártir: “Que o fogo, o patíbulo, as feras e todos os tormentos do demônio desabem sobre mim, para que eu possa gazar de Jesus Cristo!?”

... ou como réprobos.

[34]Mas, enfim, se não quereis sofrer pacientemente e, como os predestinados, carregar com resignação a vossa cruz, levá-la-eis com murmurações e impaciência, como os réprobos. Sereis semelhantes aos que arrastavam, gemendo, a Arca da Aliança (74). Imitareis Simão de Cirene, que pôs, de má vontade, a mão na Cruz de Jesus Cristo (75) e que murmurava enquanto a levava. Acontecer-vos-á, finalmente, o que aconteceu ao mau ladrão, que, do alto da sua cruz, caiu no fundo do abismo.

Não, não, esta terra maldita em que vivemos não torna ninguém bem-aventurado; não se vê bem neste país de trevas; nunca se está em perfeita tranqüilidade neste mar tempestuoso; nunca se vive sem combates neste lugar de tentação e neste campo de batalhas; nunca se vive sem pontadas nesta terra coberta de espinhos. É preciso que os predestinados e os réprobos levem a sua cruz, quer seja de boa ou má vontade. Guardai este quatro versos:

Escolhe uma só cruz das que vês no Calvário.
Bem saibas escolher! porquanto é necessário
Que sofras como santo, ou como penitente,
Ou como condenado, eterno descontente!

Quer isto dizer que, se não quiserdes sofrer com alegria, como Jesus Cristo, ou com paciência, como o bom ladrão, tereis, mesmo sem o querer, de sofrer como o mau ladrão. Será preciso que bebais, até as fezes, o mais amargo cálice, sem nenhuma consolação da graça, e que carregueis todo o peso da vossa cruz, sem nenhum auxílio poderoso de Jesus Cristo. Será preciso mesmo que leveis o peso fatal que o demônio acrescentará à vossa cruz, pela impaciência em que vos lançará, e que, depois de haverdes sido desgraçado na terra, como o mau ladrão, vades encontrá-lo nas chamas.

- Carta aos Amigos da Cruz [p. 12-13].
São Luís M. G. de Montfort

O Heresiarca Lutero

Blood Money