Retomando as análises de filmes, hoje escrevo sobre uma belíssima obra baseada na vida de São Vicente de Paulo.
O filme francês é um tanto antigo (ainda em preto e branco), todavia, consegue tocar O espectador, desconcerta-lo, coisas que muitos dos filmes hodiernos com todas as suas parafernalhas tecnológicas sequer chegam perto.
A trilha sonora foi muito bem escolhida, os diálogos ricos e profundos, a narrativa segue no ritmo ideal, e os atores extremamente competentes, há cenas em que apenas os olhares falam por si.
Um filme excelente no exato sentido do termo, competente em todos os seus aspectos, o qual com toda a certeza merece a nota máxima.
★★★★★
Passo aqui agora a falar de alguns pontos nos quais o filme me fez refletir.
Por vezes idealizamos e romantizamos a nobreza, por sua pompa e feitos de algumas antigas figuras mas, se tal classe nos premiou com grandes homens, também nos trouxe figuras repugnantes. O filme retrata de forma interessante e caricata a decadência desta nobreza, envolvida em futilidades, vivendo das aparências, incapaz de se colocar no lugar do próximo, e tentando fazer da caridade uma mera ferramenta de auto-promoção. Poderíamos dizer que retrata o "aburguesamento" da nobreza.
Longe de instigar a revolta marxista da luta de classes, o que o filme nos convida com tal cenário é a um sincero exame de consciência; quantas vezes somos tão ou mais fúteis que os as personagens do filme? Estamos praticando a verdadeira caridade ou apenas um simulacro aburguesado desta?
Há diversos outros pontos que dariam um extenso ensaio: a fortaleza de São Vicente, a riqueza simbólica de muitas cenas, o realismo longe de idealizações e romantismos com a qual a pobreza é mostrada, entretanto finalizo esta análise com um dos mais profundos diálogos do cinema:
-Talvez Deus queira que morram. São filhos do pecado.
-Quando Deus quer que alguém morra para pagar um pecado é o filho Dele que Ele envia.
Deus não quer que um inocente morra em nome do pecado. É a covardia, a incúria, o vício dos homens....
....
