sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Daens: Das matizes de cinza ao vermelho grotesco

Daens: Um Grito de Justiça, o filme de François Chevallier que se propõe contar a história do padre belga segundo sua biografia escrita por Louis Paul Boon

Até que ponto um filme que se propõe histórico é fiel aos acontecimentos reais, e até que ponto usa das figuras antigas para promover idéias modernas? São questões complexas, aos quais evito de tratar nesta postagem devido ao fato de que não conheço, nem estudei a fundo a vida de Daens, me limito aqui a comentar aquilo que foi retratado no filme: uma obra de matizes cinzas a propagandear o marxismo.

Ao inicio, o filme retrata a degradante e desumana situação dos trabalhadores fabris no fim do século XIX, tratados como animais: fábricas lotadas, salários risíveis, abuso moral, abuso sexual entre outras misérias. Neste cenário chega o Padre Daens, um padre encrenqueiro e corajoso, munido com os ensinamentos da Rerum Novarum a lutar por uma vida mais digna a estes trabalhadores, e lembrar aos patrões de sua responsabilidade como cristão. Ao menos esta é a proposta inicial, seguisse a história este modelo teríamos um edificante filme católico a retratar um padre pregando a Doutrina Social da Igreja, mas infelizmente logo a coisa se converte em propaganda socialista descarada; por isso uso a expressão "matizes de cinza", uma luta moral contra problemas reais se perde em caminhos tortuosos.

Na obra, a Igreja é retratada como linha auxiliar do poder. Por exemplo, um dos personagens, um padre “romaninho” é sempre retratado como um covarde puxa-saco a abusar de sua autoridade espiritual para intimidar os trabalhadores a não se revoltarem contra seus patrões. Outro personagem Woeste, um eminente politico católico não passa de um tirano burguês explorador. Os malabarismos narrativos são tão grandes, que da luta da Igreja pela dignidade dos trabalhadores a coisa se converte na imagem simbólica de socialistas e liberais se unirem em apoio a eleição do Padre Daens contra a “opressão do partido católico”.

Os socialistas são sempre retratados como aliados dos trabalhadores, incompreendidos injustamente caluniados, inclusive um deles faz par romântico com uma das protagonistas do filme.

Ao fim da película temos a imagem de Daens abandonando o sacerdócio para lutar ao lado do povo junto aos socialistas, contra a elite e uma Igreja (retratada como) senil e hipócrita. Enfim a imagem que fica deste folhetim comunista: não se espere nada da Igreja, façamos a revolução com os socialistas.

Com isto dito, é evidente não se tratar de um filme católico, e portanto minha avaliação não poderia ser outra senão a nota mínima.

★★★★

Além da anti-católica e apologia ao socialismo, o filme também apela a cenas grotescas como fornicação, estupro e caganeira. Apesar de ser bem feito do ponto de vista técnico (boa atuação, boa trilha sonora) a mensagem que o filme leva é má. Portanto fica minha "desrecomentação".

O Heresiarca Lutero

Blood Money